Adolf Galland
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Adolf Galland
ATENÇÃO: A ABA DE PILOTOS HISTÓRICOS DA WWII SÓ RELATA FATOS HISTÓRICOS E A BIOGRAFIA DOS PILOTOS QUE VOARAM NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (NO CASO A BANDEIRA DA ALEMANHA DA ÉPOCA DA 2 GUERRA) NÃO FAZEMOS APOLOGIA A QUALQUER TIPO DE SEITA, ORGANIZAÇÕES OU ETC.
Adolf Galland é, de longe, o mais conhecido piloto de caça da Luftwaffe de toda a II Guerra Mundial. Muito já se escreveu sobre ele, que é uma das personalidades mais marcantes e pitorescas daquele conflito, e adjetivos não faltam para descrevê-lo: piloto brilhante - um dos poucos a superar a marca de 100 vitórias exclusivamente na Frente Ocidental -, atirador excepcional e tático inventivo, Galland foi mais do que isso, pois conseguiu fazer a transição de piloto de combate para oficial do Alto Comando com grande sucesso. Consequentemente, ele será relembrado tanto por seus combates nos céus da Europa deflagrada quanto em sua luta sem fim contra a burocracia do Partido Nazista e suas mazelas.
Fora tudo isso, sua história fez a alegria dos correspondentes de guerra e ainda é fonte de ótimas anedotas. Galland era um bon vivant elegante que gostava da boa vida e de boa companhia. Seu símbolo pessoal, uma ver-são do Mickey Mouse portando machadinha, revólver e mastigando charu-to, estava pintada em seu avião. Aliás, ele raramente era visto sem seus famosos charutos, a ponto de seu avião ser o único da II Guerra a ser e-quipado com acendedor de cigarros! Tudo isso lhe valeu o apelido dado pelos britânicos de "Piloto Almofadinha".
Adolf Joseph Ferdinand Galland nasceu em 19 de março de 1912 em Westerholt, no seio de uma família descendente de huguenotes (protes-tantes) franceses que haviam fugido para a Alemanha no século XVII. Se gundo filho de um total de quatro irmãos, ainda menino desenvolveu a pai-xão pela aviação. Aos 12 anos começou a construir aeromodelos e aos 16 já voava em planadores, tornando-se mais tarde um piloto de sucesso. Nessa época seu grande sonho era ser piloto comercial. Sonho esse que se realiza ao ser admitido no centro de treinamento da Lufthansa em Brunswick - na verdade uma escola de treinamento de pilotos de combate disfarçada, a fim de burlar o Tratado de Versalhes -, onde permaneceu du-rante um ano, sob comando do veterano da I Guerra Mundial, Alfred Keller
O bon vivant: Galland caçando faisões no inverno de 1940/41.
A mudança brusca veio em fevereiro de 1935, quando Galland ingressou na Luftwaffe - a recém criada Força Aérea do III Reich. Mas sua carreira quase teve um fim prematuro quando, nesse mesmo ano, sofreu um grave acidente enquanto fazia acrobacias, no qual esfacelou seu nariz e comprometeu seriamente seu olho esquerdo. Depois de três meses de tratamento, seu relatório médico apresentava a sentença: "Incapacitado para o vôo". No entanto, ele solicitou um segundo exame de visão. O resultado foi óbvio: foi aprovado e liberado para voar depois de usar de certos artifícios muito pouco éticos. Contando com a ajuda de um colega que também era oficial, ele conseguiu memorizar todas as letras do cartaz de exame de vista. Pouco depois, comissionado com a patente de Leutnant, ele foi designado para servir como instrutor na Jagdfliegerschule (Escola de Pilotos de Caça) de Schleissheim.
Galland deixando seu Bf 109, logo abaixo podemos ver o Mickey Mouse, seu emblema pessoal.
Galland permaneceria lá até abril de 1937, quando apresentou-se como voluntário designado para servir na famosa (e infame) Legião Condor. Formada para dar suporte às forças nacionalistas do General Francisco Franco durante a Guerra Civil Espanhola, a Legião serviu de inestimável batismo de fogo para toda uma geração de futuros pilotos e líderes alemães como Werner Mölders, Günther Lützow e Walter Oesau. Em 08.05.1937, após chegar a El Ferrol, Galland foi designado Staffelkapitän do 3./JGr 88 (3º Staffel do Jagdgruppe 88), parte da famo sa Legião. Sua unidade ficaria conhecida como "Esquadrão Mickey Mouse" - alusão àquele que se tornaria seu símbolo pessoal.
Na Espanha, voando a bordo de um obsoleto biplano Heinkel He 51, muitas vezes apenas de calção e camiseta (devido ao forte calor do verão espanhol), Galland seria o responsável por missões de apoio às tropas de infantaria, desenvolvendo táticas que depois seriam a base de toda a força de bombardeiros de apoio terrestre - Schlachtfliegerei - da II Guerra Mundial. Ele executou nada menos que 280 missões de combate contra as forças republicanas espanholas, executando bom-bardeios de mergulho e ataques a alvos terrestres.
Ainda em solo espanhol, Galland encontraria aquele que seria seu grande rival e amigo: Werner Mölders. Convocado para sucedê-lo no comando do 3./JGr 88, Mölders estava destinado a se tornar o maior ás alemão e um dos grandes táticos daquele conflito. Chamado de volta à Alemanha em julho de 1938, Galland foi incumbido pelo Reichsluftfahrministerium (RLM - Ministério da Aeronáutica) de criar e desenvolver a primeira unidade específica de apoio terrestre. Em 01.11.1938 ele foi nomeado Staffelkapitän do 1./JG 433 (mais tarde chamado 1./JG 52). Condecorado com a Cruz Espanhola em Ouro com Espadas e Brilhantes em 01.08.1939 pela sua liderança na Espanha, Galland foi designado Staffelkapitän do 5.(Sch.)/LG 2 (5º Staffel - Schlacht - da Lehrgeschwader 2).
Promovido a Hauptmann, com o início da II Guerra Mundi al, em setembro de 1939, Galland executou mais de 50 missões durante a invasão da Polônia, participando dos primeiros ataques às posições da infantaria polonesa, próximo a cidade de Panki. Depois atacou várias pontes, veículos blindados, tropas e trens, sendo condecorado com a Cruz de Ferro de 2ª Classe. Contudo, ele estava extremamente infeliz - seu sonho era se tornar um caça-dor. Ele sabia que a aviação de apoio terrestre ofereceria poucas oportunidades para combater outros aviões. Mais uma vez, ele recorreu a um artifício para conseguir o que queria.
Após a Campanha da Polônia, Galland foi acometido de reumatismo. Enviado para Wiesbaden para tratamento, lá ele encontrou um oficial médico que era seu amigo. Re-sultado: o diagnóstico afirmava que ele não mais poderia
voar em cockpits abertos - como era o caso do principal avião de ataque ao solo, o biplano Henschel Hs123 - devendo passar a pilotar tipos com a cabina fechada, tal qual o caça Messerschmitt Bf 109E... Ainda em Wiesbaden, ele encontraria mais uma vez com Mölders, que lhe ensinaria como ser um piloto de caça: "foi Werner Mölders que me ensinou a atirar em vôo e como derrubar uma aeronave."
Após sua recuperação, Galland foi designado para servir como Geschwaderadjutant (equivalente a Oficial de Operações) na Jagdgeschwader 27, sob comando do Oberst Max Ibel. Mas ainda não seria desta vez: seu trabalho era prioritariamente burocrático. Burlando seu superior, Galland começou a efetuar uma série de mis-sões de combate durante a Campanha da França. Finalmente, em 12.05.1940, a oeste de Liége, na Bélgica, derrubou suas primeiras vitimas: três Hawker Hurricane da RAF. Uma estréia notável!
Galland é recepcionado por Hitler.
Suas vitórias começaram a aumentar substancialmente, fazen-do com que o Alto-Comando finalmente se rendesse: em 11.06. 1940, o Major Galland foi nomeado Kommandeur do III/JG 26 (Gruppe III da JG 26) - derrubando dois caças inimigos em seu primeiro dia com aquela unidade. Voando duas a três missões diárias, escoltando bombardeiros e engajando-se em duelos mortais contra os Spitfires e Hurricanes da RAF, ele encerraria a Campanha da França, no final daquele mês, com um total de 14 vitórias confirmadas.
Ainda no início da Batalha da Inglaterra, em 29 de julho de 1940, o Major Adolf Galland tornou-se o terceiro piloto de caça da Luftwaffe a ser condecorado com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro. Menos de um mês depois, em 22.08.1940, Galland foi nomeado Kommodore da Jagdgeschwader 26 "Schlageter", o qual lideraria durante o restante da luta sobre a Inglaterra e sobre os combates no Canal da Mancha ao longo do ano seguinte. Em 24 de setembro de 1940, após derrubar
seu 40º inimigo, Adolf Galland tornou-se o 3º soldado da Wehrmacht a receber das mãos de Hitler as Folhas de Carvalho da Cruz de Cavaleiro.
"No dia 24 de setembro, a minha 40ª vitória aérea deu-me as Folhas de Carvalho. Hitler, pessoalmente, devia fazer a entrega em Berlim. O Führer recebeu-me na sua nova chancelaria. Era a segunda vez que estava sentado diante dele. Para grande assombro meu, não representou, nem por um momento, o papel do chefe sobrecarregado de trabalho. Pelo contrário, interrogou-me minuciosamente sobre as minhas impressões pessoais. Não lhe escondi a minha admiração pelo adversário contra o qual lutávamos no céu britânico. Segundo julgo, os caças ingleses, em condições de inferioridade, tanto numérica como técnica, tinham salvo a sua pátria no momento de maior perigo, graças à sua tenacidade e à sua dedicação. Eu sentia-me, pelo menos, no dever de protestar contra certos comentários da imprensa e do rádio que falavam da RAF em tom desdenhoso e arrogante. Fiquei pasmado ao ver que Hitler, longe de tomar a defesa do seu serviço de propaganda, concordava plenamente comigo. Ele também, declarou, sentia o maior dos respeitos pelos ingleses e lamentava esta guerra, que se via obrigado a mover-lhes, uma guerra até à morte, que não podia terminar sem o aniquilamento de um dos antagonistas."
Em 01.11.1940 ele atingiu a marca de 50 vitórias confirmadas. Nessa época uma "corrida de ases" se estabeleceu entre Galland, Mölders e Helmut Wick. No ano seguinte, ele continuou a voar em missões de combate partindo de bases situadas na França, onde obteve mais e mais vitórias, em uma longa guerra de atrito contra a RAF. Seu núme-ro de vitórias reflete a dureza dos combates.
A despeito da violência da luta, Galland nunca perdeu o bom humor ou o sentimento de cavalheirismo. Certa vez, somente para testar o jovem piloto, Göring indagou a Galland sobre sua reação em caso de ser or-denado para atirar em pilotos pendurados em pára-quedas. "Eu consi-deraria tal ordem assassinato. E faria todo o possível para desobede-cê-la" - ele respondeu com indignação.
Muito pelo contrário, haviam ordens expressas do Alto-Comando para que tal conduta fosse evitada - o que nem sempre foi observado pelos ingleses e americanos que, com certa freqüência, metralhavam pilotos alemães (principalmente aqueles dos jatos).
Outro costume de Galland era as recepções que fazia em homenagem àqueles mais afortunados pilotos aba-tidos que eram capturados com vida - como o lendário jantar que Galland e seus amigos da JG26 ofereceram para o igualmente conhecido ás britânico Douglas Bader (1910-1982), quando este foi obrigado a saltar sobre a França ocupada em 1941. Ambos jantaram, fumaram charutos e a Bader foi até mesmo permitido sentar no cockpit de um caça Bf109.
Galland (2º a partir da esq.) com seu famoso convidado, Douglas Bader (centro) no quartel do JG 26, 1941. Mas não foi só: Bader - que havia derrubado 22 aviões alemães - havia perdido as duas pernas antes da guerra em um acidente e voava utilizando próteses as quais per deu neste seu último combate. Em seu encontro, ele soli citou aos seus "anfitriões" se estes lhes poderiam provi-denciar novos exemplares. Com a autorização de Göring e utilizando a freqüência da Cruz Vermelha Internacional, Galland comunicou-se com os britânicos e lhes assegu- rou salvo-conduto para que jogassem de pára-quedas as próteses sobre a base da JG26. Isto foi levado a cabo pe-los britânicos - que aproveitaram a ocasião para atacar o aeródromo alemão. Mesmo assim, os caças da Luftwaffe assistiram a tudo impassíveis, mantendo a palavra de honra de seu comandante.
A amizade dos dois perdurou para muito além da guerra. Em 1946, quando Galland era prisioneiro na Inglater-ra, ele foi convidado por Bader para conhecer outros altos oficiais britânicos na lendária base da RAF em Tang mere. Lá, ele recebeu de seu anfitrião uma desejada caixa de charutos. Quando Bader morreu em 1982, Galland estava presente ao seu funeral, ao lado da Primeira-Ministra Margaret Tatcher - mas era para ele que pediam autógrafos.
Sua 60º vitória foi alcançada em 15.04.1941 em circuns-tâncias únicas. Aquele era o dia de aniversário do Gene-ral e Jagdführer 2 (líder dos caças na Luftflotte 2), Theo-dor Osterkamp. Veterano ás da I Guerra Mundial com 32 vitórias e ganhador da Pour Le Mérite, ele também havia abatido outras seis aeronaves no segundo conflito e rece-bido também a Cruz de Cavaleiro. Uma festa surpresa foi organizada para "Onkel Theo" (tio Theo) como era cari-nhosamente chamado pelos jovens pilotos e Galland foi convidado.
Animado com o compromisso, ele colocou uma imensa cesta com lagostas e uma caixa de champanhe em seu Bf109 e decolou em direção a Le Touquet. Contudo, ele resolveu fazer um pequeno desvio, sobrevoando o sul da
Inglaterra junto de seu Rottenflieger, Leutnant Westphal. No meio do caminho a dupla avistou uma formação de seis caças Spitfires sobre Kent. Não resistindo à tentação, Galland mergulhou para o ataque: o primeiro caça inglês, pego de surpresa, foi presa fácil. Ao atacar o segundo avião, ele não percebeu que seu ala, com problemas no motor, havia se separado dele. Mesmo assim, Galland "completou o trabalho" abatendo o segundo Spitfire e correndo de volta à costa da França, desviando dos tiros dos furiosos ingleses. Desse modo, à noite, eles celebraram não apenas o aniversário de Osterkamp mas também sua 60ª vitória.
Hermann Göring verifica o leme do Bf 109F-6 de Galland ornamentado com 94 baixas, 1941.
No dia 21.06.1941, após derrubar três caças inimigos (suas 67ª a 69ª vi-tórias), Galland foi severamente ferido na cabeça e braço e abatido, sen do forçado a saltar de pára-quedas de seu Bf 109F-2 (werkenummer 6713) - ocasião em que quase morreu ao se ver enroscado em seu pró- prio avião. Nesse mesmo dia em que, por pouco, escapou da morte, o Oberstleutnant Adolf Galland tornou-se o primeiro soldado em toda a Wehrmacht a ser agraciado por Adolf Hitler com as Espadas da Cruz de Cavaleiro, no mesmo dia em que esta condecoração foi instituída.
Após sua recuperação, ele continuou a acumular resultados impressio-nantes diante dos pilotos ingleses. Outros três caças tombaram em 23. 07.1941 (suas 70ª a 72ª vítimas), seu 75º inimigo caiu em 09.08.1941, o 80º em 19.08.1941 e o 90º no dia 21.10.1941. Nesse momento, a carrei ra do Oberst Galland seria interrompida de modo abrupto. No dia 22.11. 1941, seu antigo amigo, Werner Mölders - então servindo como "General der Jagdflieger "(equivalente a comandante dos pilotos de caça) - morreu em um acidente de avião, enquanto ia para o funeral do famoso herói da I Guerra Mundial, General Ernst Udet.
Durante as homenagens a Mölders, Galland foi informado por Hermann Göring que seria nomeado sucessor de seu antigo rival. Ao ser designado oficialmente o novo "General der Jagdflieger", em 05.12.1941, Galland somava 94 vitórias confirmadas mas teve que deixar o comando da JG 26, passando-o ao seu amigo Major Gerhard Schöpfel. Mesmo assim, em reconhecimento aos seus feitos, Adolf Galland foi condecorado por Hitler com os Brilhantes da Cruz de Cavaleiro em 28 de janeiro de 1942 - o 2º soldado a receber essa honraria.
Não tardaria para Galland demonstrar suas qualidades de líder nato. Em fevereiro de 1942 ele foi o principal respon-sável pela Operação "Donnerkeil-Cerberus" (Trovão-Cérbe ro): a travessia do Canal da Mancha pelos grandes navi-os de guerra alemães Scharnhorst, Gneisenau e Prinz Eugen sob proteção de um guarda-chuva aéreo entre os dias 11 e 13.02.1942. Exemplo raro de trabalho conjunto entre forças armadas distintas (Kriegsmarine e Luftwaffe) durante o III Reich, o sucesso da operação foi garantido pelo empenho de Galland e do Almirante Otto Ciliax. O jo vem "General der Jagdflieger" empregou nada menos que 250 caças diurnos e 30 caças noturnos em uma cobertu-ra ininterrupta sobre as belonaves germânicas, até que essas atingissem a segurança de portos na Alemanha. A humilhação dos britânicos foi completa.
Hermann Göring e Galland, 1941
Como resultado pelos seus esforços, Galland foi promovido a Generalmajor em 19.11.1942 - aos 30 anos de idade era, então, o mais jovem general da Wehrmacht. Ele passaria os dois anos seguintes cuidando da organização, aparelhamento e desenvolvimento da força de caças da Luftwaffe. A fim de se manter inteirado sobre os problemas e situações vividos por seus subordinados, Galland não apenas passava várias semanas visitando as unidades na frente de batalha mas, também, contrariando ordens diretas de Hitler e Göring, efe-tuando missões de combate reais.
Egon Mayer (esq.) saúda Galland sob o olhar de Walter Oesau (dir.), 1943.
No outono de 1943, contrariando ordens superiores, Galland partiu de um aeródromo próximo a Berlim, a bordo de um Focke-Wulf Fw190, a fim de interceptar uma grande formação de bombardeiros norte-ameri-canos, conseguindo abater um B-24 Liberator, sua 95ª vitória.
Mas a guerra também custou caro à Galland: seus dois irmãos mais novos morreram em combate na frente ocidental. Paul Galland (ás de 17 vitórias) tombou em 31.10.1942 e Wilhelm-Ferdinand Galland (55 vitórias e ganhador da Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro) foi morto em 17.08.1943.
Na primavera de 1944, em mais uma missão secreta, abateu outro bombardeiro da USAAF, um B-17 Flying Fortress próximo a Magd-borg. Porém, dessa vez, ele foi seguido por quatro P-51 Mustangs que faziam a escolta, conseguindo escapar ileso por muito pouco. Este fato, narrado a seguir pelo próprio Galland, ilustra muito bem a situação crítica pela qual os pilotos de caça alemães estavam pas-sando:
"Eu estava a 100 jardas (91 m) atrás de sua cauda... O B-17 disparou suas metralhadoras e realizou mano-bras evasivas desesperadas. Nesse momento a única coisa que existia no mundo era esse bombardeiro norte-americano, que lutava desesperadamente pela sua vida, e eu. Enquanto meus canhões disparavam, pedaços de metal começaram a desprenderem-se da fuselagem do bombardeiro, esteiras de fumaça surgiram de seus motores, e a tripulação lançou toda sua carga de bombas. Um dos tanques de combustível das asas se incendiou. Os tripulantes começaram a se lançar de pára-quedas. A voz de Trautloft [Hannes Trautloft, outro grande ás da Lutfwaffe] ressoou nos meus audiofones: ´Achtung Adolf! Mustangs! Eu estou caindo fora! Meus canhões estão travados!´ E então, com a primeira rajada dos Mustangs, voltei à realidade. Não havia mais dúvidas acerca da sorte do B-17: estava liquidado; porém eu, ainda não... Simplesmente fugi. Num piquê com o acelerador no fundo, tentei escapar dos Mustangs que, voando na minha perseguição, disparavam incessantemente. Direção: esta, rumo a Berlim. Os projéteis traçantes (tracers) se aproximavam mais e mais. No instante em que o meu Fw 190 ameaçava desintegrar-se, e quando me restavam apenas escassas possibilidades, fiz algo que já havia salvo minha vida em duas oportunidades durante a Batalha da Inglaterra: disparei todos os projéteis que restavam contra o vazio na minha frente. Isso produziu o efeito desejado sobre os meus perseguidores que, repentinamente, viram ir ao seu encontro a fumaça das minhas balas. Provavelmente acreditaram que haviam se deparado com o primeiro caça que disparava para trás, ou que outro caça alemão estava atrás deles. Meu truque deu resultado, pois deram uma volta fechada para a direita e, subindo, desapareceram no céu."
Nos anos de 1943 e 1944, Galland lutaria por uma força de caça mais poderosa como único modo de enfrentar a ofensiva de bombardeios conduzida pela RAF e pela USAAF, a despeito da oposição de Hitler (que nunca admitiu lutar na defensiva) e do já alienado Göring. Desse modo, foi natural que ele se tornasse o maior entusiasta do revolucioná rio caça a jato Messerschmitt Me262, o qual pilotou durante sua fase de desenvolvimento.
Além de líder e excelente piloto, Galland também era brilhante no de-senvolvimento de novas táticas e estratégias de com bate, além de ser o grande responsável pela criação e implementação da nova carlinga que equipou as ultimas versões do Messerschmitt Bf109, a qual propor-cionou um aumento significativo na visibilidade dos pilotos e recebeu o seu nome, "Gallandhaube".
Göring freqüentemente manobrou a fim de minar o poder de Galland. Na prática, o ás tinha pouca autonomia. Mesmo assim, nas ocasiões em que conseguia alguma liberdade operacional, Galland alcançava resulta-dos admiráveis, como foi o caso do ataque maciço contra a força de bombardeiros americanos B-17 que se dirigia para Brunswick em 10.02.
Generalmajor Adolf Galland e Willy Messerschmitt.
1944. Seguindo sua doutrina de que a concentração de caças poderia causar pesados danos contra as forma- ções de Fortalezas Voadoras, seus 350 aviões conseguiram abater nada menos que 39 B-17s e danificaram severamente outros 111 - de um total de 169 bombardeiros.
Mas seria uma exceção. A situação da Luftwaffe piorava a cada dia, forçando-o a reconstruí-la cada vez que era lançada por Hitler e Göring em mais uma ofensiva sem sentido. O ponto crítico chegou em janeiro de 1945. Em uma lendária reunião - hoje chamada de "Motim dos Pilotos" - Adolf Galland, Günther Lützow, Gün ther von Maltzahn, Hannes Trautloft, Johannes Steinhoff e outros veteranos enfrentaram abertamente Göring. Em um dado momento, quando o decadente Reichsmarschall acusou-os de serem mentirosos, covardes e de inflarem seu número de vitórias, Galland arrancou sua Cruz de Cavaleiro com Brilhantes do pescoço e arremes sou-a na mesa de Göring. Era o fim.
Generalmajor Adolf Galland.
Exonerado de seu cargo de Generalderjagdflieger em 15.01.1945 (sen do sucedido por Gordon Gollob), Galland passaria as semanas seguin tes praticamente em prisão domiciliar, enquanto seus amigos eram enviados para postos remotos no que restava do III Reich. Ameaçado pela Gestapo, ele cogitou seriamente de dar cabo à sua vida. Mas, en tão, Hitler soube das intrigas conduzidas por Heinrich Himmler (chefe das SS e da Polícia Secreta) e por Göring.
Acreditando que o antigo piloto merecia um fim melhor, ele determinou que a atuação da Gestapo cessasse e que Galland fosse autorizado a comandar um esquadrão de jatos. Se fosse para morrer - o que Hitler, Göring e Himmler sinceramente esperavam que acontecesse - que morresse em combate.
O resultado foi o surgimento daquela que seria a mais famosa unidade de caças à jato da história: a Jagdverband 44 (JV 44). Utilizando Johannes Steinhoff como seu "recrutador", Galland transformou sua unidade em um imã para os ases que haviam sobrevivido ao conflito conhecido como o "Esquadrão de Experts". Vários ases tinham mais
de cem vitórias e alguns mais de 200 abates: além dos já citados Steinhoff e Lützow, fizeram parte desse grupo Walter Krupinski, Gerhard Barkhorn, Heinz Bär e vários outros.
Eles passaram a operar a partir do final de março de 1945, sediados inicialmente em Brandenburg-Briest, onde permaneceram pouco tempo antes de se mudarem para Riem, próximo a Munique, no sul da Alemanha. Operando em pistas sob constante ataque de caças americanos e com constante falta de peças de reposição e combustível, os resultados atingidos por Galland e seus homens foram notáveis, dadas as circunstâncias. Seu melhor momento ocorreu em 07.04.1945, quando uma formação de bombardeiros B-17 foi interceptada pelos Me262 de Galland equipados com mísseis R4M. O resultado foi catastrófico para os americanos: nada menos que cerca de 30 quadrimotores foram abatidos.
Mas a guerra já estava perdida à essa altura. Sua última missão no con-flito foi em 26 de abril de 1945 (duas semanas antes do final da guerra). Voando em pequena formação de Me262 sobre o Danúbio, ele derrubou dois bombardeiros B-26 Marauder antes de ser abatido pelo Lt. James Finnegan do 50º Figther Group da USAAF que fazia a escolta com seu P-47 Thunderbolt. Esta também seria a última ação conhecida dos Me 262. Quando a Alemanha se rendeu aos Aliados, em 08.05.1945, Adolf Galland estava no hospital se recuperando dos ferimentos de sua última missão.
Galland seria mantido como prisioneiro de guerra pelos americanos e in-gleses até 1947. Após sua libertação, ele emigrou para a Argentina, onde trabalhou como consultor do Ministério da Aeronáutica ao lado de nomes como Werner Baumbach, Hans-Ulrich Rudel e Kurt Tank (o projetista che-fe da Focke-Wulf), ajudando a desenvolver o primeiro jato daquele país. No início dos anos 50 ele publicou sua aclamada biografia, conheci da co-mo "The First and The Last" ("O Primeiro e o Último"), ainda hoje editado. Seu trabalho permitiu que mantivesse contato com o mundo da aviação, em um período em que a maioria de seus colegas estava afasta dos dessa área.
Retornando à Alemanha em 1955, o nome de Galland foi um dos primeiros a ser cogitado para assumir a liderança da nova Luftwaffe. Contudo, ao saber que ficaria subordinado ao General Josef Kammhuber - com quem já tinha tido alguns problemas de relacionamento durante a guerra - Galland declinou e permaneceu como consultor, tornando-se um empresário extremamente bem sucedido. Sua paixão pelo vôo continuou assim como sua fama de "bon vivant": ele se casou três vezes e se tornou pai pela primeira vez aos 54 anos de idade.
Em 1969, Adolf Galland foi contratado como consultor pelos produtores do hoje clássico filme de guerra "A Batalha da Inglaterra" (The Battle of Britain). Um dia, visitando o set de filmagem, ele surpreendeu a todos: tomou o assento no cockpit de um dos Ha-1109 (a versão espanhola do Bf109) usados pela produção, decolou e, diante das câmaras, executou uma impecável seqüência de tunneau a poucos metros do solo. Pousou em seguida diante dos olhares atônitos dos jovens pilotos contratados para as cenas dos combates aéreos. Nada mal para um senhor de 57 anos!!
O eterno ás da Luftwaffe, o Generalleutnant Adolf Galland faleceu em razão de uma parada cardíaca em sua casa em Oberwinter, subúrbio de Bonn (Alemanha), no dia 09 de fevereiro de 1996, aos 83 anos de idade. Durante sua carreira, Adolf Galland executou 705 missões de combate (280 na Espanha), ao longo das quais alcançou a marca de 104 vitórias confirmadas - todas contra aliados ocidentais (incluindo quatro bombardeiros quadrimotores e oito vitórias à bordo do lendário jato Messerschmitt Me262)
Adolf Galland é, de longe, o mais conhecido piloto de caça da Luftwaffe de toda a II Guerra Mundial. Muito já se escreveu sobre ele, que é uma das personalidades mais marcantes e pitorescas daquele conflito, e adjetivos não faltam para descrevê-lo: piloto brilhante - um dos poucos a superar a marca de 100 vitórias exclusivamente na Frente Ocidental -, atirador excepcional e tático inventivo, Galland foi mais do que isso, pois conseguiu fazer a transição de piloto de combate para oficial do Alto Comando com grande sucesso. Consequentemente, ele será relembrado tanto por seus combates nos céus da Europa deflagrada quanto em sua luta sem fim contra a burocracia do Partido Nazista e suas mazelas.
Fora tudo isso, sua história fez a alegria dos correspondentes de guerra e ainda é fonte de ótimas anedotas. Galland era um bon vivant elegante que gostava da boa vida e de boa companhia. Seu símbolo pessoal, uma ver-são do Mickey Mouse portando machadinha, revólver e mastigando charu-to, estava pintada em seu avião. Aliás, ele raramente era visto sem seus famosos charutos, a ponto de seu avião ser o único da II Guerra a ser e-quipado com acendedor de cigarros! Tudo isso lhe valeu o apelido dado pelos britânicos de "Piloto Almofadinha".
Adolf Joseph Ferdinand Galland nasceu em 19 de março de 1912 em Westerholt, no seio de uma família descendente de huguenotes (protes-tantes) franceses que haviam fugido para a Alemanha no século XVII. Se gundo filho de um total de quatro irmãos, ainda menino desenvolveu a pai-xão pela aviação. Aos 12 anos começou a construir aeromodelos e aos 16 já voava em planadores, tornando-se mais tarde um piloto de sucesso. Nessa época seu grande sonho era ser piloto comercial. Sonho esse que se realiza ao ser admitido no centro de treinamento da Lufthansa em Brunswick - na verdade uma escola de treinamento de pilotos de combate disfarçada, a fim de burlar o Tratado de Versalhes -, onde permaneceu du-rante um ano, sob comando do veterano da I Guerra Mundial, Alfred Keller
O bon vivant: Galland caçando faisões no inverno de 1940/41.
A mudança brusca veio em fevereiro de 1935, quando Galland ingressou na Luftwaffe - a recém criada Força Aérea do III Reich. Mas sua carreira quase teve um fim prematuro quando, nesse mesmo ano, sofreu um grave acidente enquanto fazia acrobacias, no qual esfacelou seu nariz e comprometeu seriamente seu olho esquerdo. Depois de três meses de tratamento, seu relatório médico apresentava a sentença: "Incapacitado para o vôo". No entanto, ele solicitou um segundo exame de visão. O resultado foi óbvio: foi aprovado e liberado para voar depois de usar de certos artifícios muito pouco éticos. Contando com a ajuda de um colega que também era oficial, ele conseguiu memorizar todas as letras do cartaz de exame de vista. Pouco depois, comissionado com a patente de Leutnant, ele foi designado para servir como instrutor na Jagdfliegerschule (Escola de Pilotos de Caça) de Schleissheim.
Galland deixando seu Bf 109, logo abaixo podemos ver o Mickey Mouse, seu emblema pessoal.
Galland permaneceria lá até abril de 1937, quando apresentou-se como voluntário designado para servir na famosa (e infame) Legião Condor. Formada para dar suporte às forças nacionalistas do General Francisco Franco durante a Guerra Civil Espanhola, a Legião serviu de inestimável batismo de fogo para toda uma geração de futuros pilotos e líderes alemães como Werner Mölders, Günther Lützow e Walter Oesau. Em 08.05.1937, após chegar a El Ferrol, Galland foi designado Staffelkapitän do 3./JGr 88 (3º Staffel do Jagdgruppe 88), parte da famo sa Legião. Sua unidade ficaria conhecida como "Esquadrão Mickey Mouse" - alusão àquele que se tornaria seu símbolo pessoal.
Na Espanha, voando a bordo de um obsoleto biplano Heinkel He 51, muitas vezes apenas de calção e camiseta (devido ao forte calor do verão espanhol), Galland seria o responsável por missões de apoio às tropas de infantaria, desenvolvendo táticas que depois seriam a base de toda a força de bombardeiros de apoio terrestre - Schlachtfliegerei - da II Guerra Mundial. Ele executou nada menos que 280 missões de combate contra as forças republicanas espanholas, executando bom-bardeios de mergulho e ataques a alvos terrestres.
Ainda em solo espanhol, Galland encontraria aquele que seria seu grande rival e amigo: Werner Mölders. Convocado para sucedê-lo no comando do 3./JGr 88, Mölders estava destinado a se tornar o maior ás alemão e um dos grandes táticos daquele conflito. Chamado de volta à Alemanha em julho de 1938, Galland foi incumbido pelo Reichsluftfahrministerium (RLM - Ministério da Aeronáutica) de criar e desenvolver a primeira unidade específica de apoio terrestre. Em 01.11.1938 ele foi nomeado Staffelkapitän do 1./JG 433 (mais tarde chamado 1./JG 52). Condecorado com a Cruz Espanhola em Ouro com Espadas e Brilhantes em 01.08.1939 pela sua liderança na Espanha, Galland foi designado Staffelkapitän do 5.(Sch.)/LG 2 (5º Staffel - Schlacht - da Lehrgeschwader 2).
Promovido a Hauptmann, com o início da II Guerra Mundi al, em setembro de 1939, Galland executou mais de 50 missões durante a invasão da Polônia, participando dos primeiros ataques às posições da infantaria polonesa, próximo a cidade de Panki. Depois atacou várias pontes, veículos blindados, tropas e trens, sendo condecorado com a Cruz de Ferro de 2ª Classe. Contudo, ele estava extremamente infeliz - seu sonho era se tornar um caça-dor. Ele sabia que a aviação de apoio terrestre ofereceria poucas oportunidades para combater outros aviões. Mais uma vez, ele recorreu a um artifício para conseguir o que queria.
Após a Campanha da Polônia, Galland foi acometido de reumatismo. Enviado para Wiesbaden para tratamento, lá ele encontrou um oficial médico que era seu amigo. Re-sultado: o diagnóstico afirmava que ele não mais poderia
voar em cockpits abertos - como era o caso do principal avião de ataque ao solo, o biplano Henschel Hs123 - devendo passar a pilotar tipos com a cabina fechada, tal qual o caça Messerschmitt Bf 109E... Ainda em Wiesbaden, ele encontraria mais uma vez com Mölders, que lhe ensinaria como ser um piloto de caça: "foi Werner Mölders que me ensinou a atirar em vôo e como derrubar uma aeronave."
Após sua recuperação, Galland foi designado para servir como Geschwaderadjutant (equivalente a Oficial de Operações) na Jagdgeschwader 27, sob comando do Oberst Max Ibel. Mas ainda não seria desta vez: seu trabalho era prioritariamente burocrático. Burlando seu superior, Galland começou a efetuar uma série de mis-sões de combate durante a Campanha da França. Finalmente, em 12.05.1940, a oeste de Liége, na Bélgica, derrubou suas primeiras vitimas: três Hawker Hurricane da RAF. Uma estréia notável!
Galland é recepcionado por Hitler.
Suas vitórias começaram a aumentar substancialmente, fazen-do com que o Alto-Comando finalmente se rendesse: em 11.06. 1940, o Major Galland foi nomeado Kommandeur do III/JG 26 (Gruppe III da JG 26) - derrubando dois caças inimigos em seu primeiro dia com aquela unidade. Voando duas a três missões diárias, escoltando bombardeiros e engajando-se em duelos mortais contra os Spitfires e Hurricanes da RAF, ele encerraria a Campanha da França, no final daquele mês, com um total de 14 vitórias confirmadas.
Ainda no início da Batalha da Inglaterra, em 29 de julho de 1940, o Major Adolf Galland tornou-se o terceiro piloto de caça da Luftwaffe a ser condecorado com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro. Menos de um mês depois, em 22.08.1940, Galland foi nomeado Kommodore da Jagdgeschwader 26 "Schlageter", o qual lideraria durante o restante da luta sobre a Inglaterra e sobre os combates no Canal da Mancha ao longo do ano seguinte. Em 24 de setembro de 1940, após derrubar
seu 40º inimigo, Adolf Galland tornou-se o 3º soldado da Wehrmacht a receber das mãos de Hitler as Folhas de Carvalho da Cruz de Cavaleiro.
"No dia 24 de setembro, a minha 40ª vitória aérea deu-me as Folhas de Carvalho. Hitler, pessoalmente, devia fazer a entrega em Berlim. O Führer recebeu-me na sua nova chancelaria. Era a segunda vez que estava sentado diante dele. Para grande assombro meu, não representou, nem por um momento, o papel do chefe sobrecarregado de trabalho. Pelo contrário, interrogou-me minuciosamente sobre as minhas impressões pessoais. Não lhe escondi a minha admiração pelo adversário contra o qual lutávamos no céu britânico. Segundo julgo, os caças ingleses, em condições de inferioridade, tanto numérica como técnica, tinham salvo a sua pátria no momento de maior perigo, graças à sua tenacidade e à sua dedicação. Eu sentia-me, pelo menos, no dever de protestar contra certos comentários da imprensa e do rádio que falavam da RAF em tom desdenhoso e arrogante. Fiquei pasmado ao ver que Hitler, longe de tomar a defesa do seu serviço de propaganda, concordava plenamente comigo. Ele também, declarou, sentia o maior dos respeitos pelos ingleses e lamentava esta guerra, que se via obrigado a mover-lhes, uma guerra até à morte, que não podia terminar sem o aniquilamento de um dos antagonistas."
Em 01.11.1940 ele atingiu a marca de 50 vitórias confirmadas. Nessa época uma "corrida de ases" se estabeleceu entre Galland, Mölders e Helmut Wick. No ano seguinte, ele continuou a voar em missões de combate partindo de bases situadas na França, onde obteve mais e mais vitórias, em uma longa guerra de atrito contra a RAF. Seu núme-ro de vitórias reflete a dureza dos combates.
A despeito da violência da luta, Galland nunca perdeu o bom humor ou o sentimento de cavalheirismo. Certa vez, somente para testar o jovem piloto, Göring indagou a Galland sobre sua reação em caso de ser or-denado para atirar em pilotos pendurados em pára-quedas. "Eu consi-deraria tal ordem assassinato. E faria todo o possível para desobede-cê-la" - ele respondeu com indignação.
Muito pelo contrário, haviam ordens expressas do Alto-Comando para que tal conduta fosse evitada - o que nem sempre foi observado pelos ingleses e americanos que, com certa freqüência, metralhavam pilotos alemães (principalmente aqueles dos jatos).
Outro costume de Galland era as recepções que fazia em homenagem àqueles mais afortunados pilotos aba-tidos que eram capturados com vida - como o lendário jantar que Galland e seus amigos da JG26 ofereceram para o igualmente conhecido ás britânico Douglas Bader (1910-1982), quando este foi obrigado a saltar sobre a França ocupada em 1941. Ambos jantaram, fumaram charutos e a Bader foi até mesmo permitido sentar no cockpit de um caça Bf109.
Galland (2º a partir da esq.) com seu famoso convidado, Douglas Bader (centro) no quartel do JG 26, 1941. Mas não foi só: Bader - que havia derrubado 22 aviões alemães - havia perdido as duas pernas antes da guerra em um acidente e voava utilizando próteses as quais per deu neste seu último combate. Em seu encontro, ele soli citou aos seus "anfitriões" se estes lhes poderiam provi-denciar novos exemplares. Com a autorização de Göring e utilizando a freqüência da Cruz Vermelha Internacional, Galland comunicou-se com os britânicos e lhes assegu- rou salvo-conduto para que jogassem de pára-quedas as próteses sobre a base da JG26. Isto foi levado a cabo pe-los britânicos - que aproveitaram a ocasião para atacar o aeródromo alemão. Mesmo assim, os caças da Luftwaffe assistiram a tudo impassíveis, mantendo a palavra de honra de seu comandante.
A amizade dos dois perdurou para muito além da guerra. Em 1946, quando Galland era prisioneiro na Inglater-ra, ele foi convidado por Bader para conhecer outros altos oficiais britânicos na lendária base da RAF em Tang mere. Lá, ele recebeu de seu anfitrião uma desejada caixa de charutos. Quando Bader morreu em 1982, Galland estava presente ao seu funeral, ao lado da Primeira-Ministra Margaret Tatcher - mas era para ele que pediam autógrafos.
Sua 60º vitória foi alcançada em 15.04.1941 em circuns-tâncias únicas. Aquele era o dia de aniversário do Gene-ral e Jagdführer 2 (líder dos caças na Luftflotte 2), Theo-dor Osterkamp. Veterano ás da I Guerra Mundial com 32 vitórias e ganhador da Pour Le Mérite, ele também havia abatido outras seis aeronaves no segundo conflito e rece-bido também a Cruz de Cavaleiro. Uma festa surpresa foi organizada para "Onkel Theo" (tio Theo) como era cari-nhosamente chamado pelos jovens pilotos e Galland foi convidado.
Animado com o compromisso, ele colocou uma imensa cesta com lagostas e uma caixa de champanhe em seu Bf109 e decolou em direção a Le Touquet. Contudo, ele resolveu fazer um pequeno desvio, sobrevoando o sul da
Inglaterra junto de seu Rottenflieger, Leutnant Westphal. No meio do caminho a dupla avistou uma formação de seis caças Spitfires sobre Kent. Não resistindo à tentação, Galland mergulhou para o ataque: o primeiro caça inglês, pego de surpresa, foi presa fácil. Ao atacar o segundo avião, ele não percebeu que seu ala, com problemas no motor, havia se separado dele. Mesmo assim, Galland "completou o trabalho" abatendo o segundo Spitfire e correndo de volta à costa da França, desviando dos tiros dos furiosos ingleses. Desse modo, à noite, eles celebraram não apenas o aniversário de Osterkamp mas também sua 60ª vitória.
Hermann Göring verifica o leme do Bf 109F-6 de Galland ornamentado com 94 baixas, 1941.
No dia 21.06.1941, após derrubar três caças inimigos (suas 67ª a 69ª vi-tórias), Galland foi severamente ferido na cabeça e braço e abatido, sen do forçado a saltar de pára-quedas de seu Bf 109F-2 (werkenummer 6713) - ocasião em que quase morreu ao se ver enroscado em seu pró- prio avião. Nesse mesmo dia em que, por pouco, escapou da morte, o Oberstleutnant Adolf Galland tornou-se o primeiro soldado em toda a Wehrmacht a ser agraciado por Adolf Hitler com as Espadas da Cruz de Cavaleiro, no mesmo dia em que esta condecoração foi instituída.
Após sua recuperação, ele continuou a acumular resultados impressio-nantes diante dos pilotos ingleses. Outros três caças tombaram em 23. 07.1941 (suas 70ª a 72ª vítimas), seu 75º inimigo caiu em 09.08.1941, o 80º em 19.08.1941 e o 90º no dia 21.10.1941. Nesse momento, a carrei ra do Oberst Galland seria interrompida de modo abrupto. No dia 22.11. 1941, seu antigo amigo, Werner Mölders - então servindo como "General der Jagdflieger "(equivalente a comandante dos pilotos de caça) - morreu em um acidente de avião, enquanto ia para o funeral do famoso herói da I Guerra Mundial, General Ernst Udet.
Durante as homenagens a Mölders, Galland foi informado por Hermann Göring que seria nomeado sucessor de seu antigo rival. Ao ser designado oficialmente o novo "General der Jagdflieger", em 05.12.1941, Galland somava 94 vitórias confirmadas mas teve que deixar o comando da JG 26, passando-o ao seu amigo Major Gerhard Schöpfel. Mesmo assim, em reconhecimento aos seus feitos, Adolf Galland foi condecorado por Hitler com os Brilhantes da Cruz de Cavaleiro em 28 de janeiro de 1942 - o 2º soldado a receber essa honraria.
Não tardaria para Galland demonstrar suas qualidades de líder nato. Em fevereiro de 1942 ele foi o principal respon-sável pela Operação "Donnerkeil-Cerberus" (Trovão-Cérbe ro): a travessia do Canal da Mancha pelos grandes navi-os de guerra alemães Scharnhorst, Gneisenau e Prinz Eugen sob proteção de um guarda-chuva aéreo entre os dias 11 e 13.02.1942. Exemplo raro de trabalho conjunto entre forças armadas distintas (Kriegsmarine e Luftwaffe) durante o III Reich, o sucesso da operação foi garantido pelo empenho de Galland e do Almirante Otto Ciliax. O jo vem "General der Jagdflieger" empregou nada menos que 250 caças diurnos e 30 caças noturnos em uma cobertu-ra ininterrupta sobre as belonaves germânicas, até que essas atingissem a segurança de portos na Alemanha. A humilhação dos britânicos foi completa.
Hermann Göring e Galland, 1941
Como resultado pelos seus esforços, Galland foi promovido a Generalmajor em 19.11.1942 - aos 30 anos de idade era, então, o mais jovem general da Wehrmacht. Ele passaria os dois anos seguintes cuidando da organização, aparelhamento e desenvolvimento da força de caças da Luftwaffe. A fim de se manter inteirado sobre os problemas e situações vividos por seus subordinados, Galland não apenas passava várias semanas visitando as unidades na frente de batalha mas, também, contrariando ordens diretas de Hitler e Göring, efe-tuando missões de combate reais.
Egon Mayer (esq.) saúda Galland sob o olhar de Walter Oesau (dir.), 1943.
No outono de 1943, contrariando ordens superiores, Galland partiu de um aeródromo próximo a Berlim, a bordo de um Focke-Wulf Fw190, a fim de interceptar uma grande formação de bombardeiros norte-ameri-canos, conseguindo abater um B-24 Liberator, sua 95ª vitória.
Mas a guerra também custou caro à Galland: seus dois irmãos mais novos morreram em combate na frente ocidental. Paul Galland (ás de 17 vitórias) tombou em 31.10.1942 e Wilhelm-Ferdinand Galland (55 vitórias e ganhador da Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro) foi morto em 17.08.1943.
Na primavera de 1944, em mais uma missão secreta, abateu outro bombardeiro da USAAF, um B-17 Flying Fortress próximo a Magd-borg. Porém, dessa vez, ele foi seguido por quatro P-51 Mustangs que faziam a escolta, conseguindo escapar ileso por muito pouco. Este fato, narrado a seguir pelo próprio Galland, ilustra muito bem a situação crítica pela qual os pilotos de caça alemães estavam pas-sando:
"Eu estava a 100 jardas (91 m) atrás de sua cauda... O B-17 disparou suas metralhadoras e realizou mano-bras evasivas desesperadas. Nesse momento a única coisa que existia no mundo era esse bombardeiro norte-americano, que lutava desesperadamente pela sua vida, e eu. Enquanto meus canhões disparavam, pedaços de metal começaram a desprenderem-se da fuselagem do bombardeiro, esteiras de fumaça surgiram de seus motores, e a tripulação lançou toda sua carga de bombas. Um dos tanques de combustível das asas se incendiou. Os tripulantes começaram a se lançar de pára-quedas. A voz de Trautloft [Hannes Trautloft, outro grande ás da Lutfwaffe] ressoou nos meus audiofones: ´Achtung Adolf! Mustangs! Eu estou caindo fora! Meus canhões estão travados!´ E então, com a primeira rajada dos Mustangs, voltei à realidade. Não havia mais dúvidas acerca da sorte do B-17: estava liquidado; porém eu, ainda não... Simplesmente fugi. Num piquê com o acelerador no fundo, tentei escapar dos Mustangs que, voando na minha perseguição, disparavam incessantemente. Direção: esta, rumo a Berlim. Os projéteis traçantes (tracers) se aproximavam mais e mais. No instante em que o meu Fw 190 ameaçava desintegrar-se, e quando me restavam apenas escassas possibilidades, fiz algo que já havia salvo minha vida em duas oportunidades durante a Batalha da Inglaterra: disparei todos os projéteis que restavam contra o vazio na minha frente. Isso produziu o efeito desejado sobre os meus perseguidores que, repentinamente, viram ir ao seu encontro a fumaça das minhas balas. Provavelmente acreditaram que haviam se deparado com o primeiro caça que disparava para trás, ou que outro caça alemão estava atrás deles. Meu truque deu resultado, pois deram uma volta fechada para a direita e, subindo, desapareceram no céu."
Nos anos de 1943 e 1944, Galland lutaria por uma força de caça mais poderosa como único modo de enfrentar a ofensiva de bombardeios conduzida pela RAF e pela USAAF, a despeito da oposição de Hitler (que nunca admitiu lutar na defensiva) e do já alienado Göring. Desse modo, foi natural que ele se tornasse o maior entusiasta do revolucioná rio caça a jato Messerschmitt Me262, o qual pilotou durante sua fase de desenvolvimento.
Além de líder e excelente piloto, Galland também era brilhante no de-senvolvimento de novas táticas e estratégias de com bate, além de ser o grande responsável pela criação e implementação da nova carlinga que equipou as ultimas versões do Messerschmitt Bf109, a qual propor-cionou um aumento significativo na visibilidade dos pilotos e recebeu o seu nome, "Gallandhaube".
Göring freqüentemente manobrou a fim de minar o poder de Galland. Na prática, o ás tinha pouca autonomia. Mesmo assim, nas ocasiões em que conseguia alguma liberdade operacional, Galland alcançava resulta-dos admiráveis, como foi o caso do ataque maciço contra a força de bombardeiros americanos B-17 que se dirigia para Brunswick em 10.02.
Generalmajor Adolf Galland e Willy Messerschmitt.
1944. Seguindo sua doutrina de que a concentração de caças poderia causar pesados danos contra as forma- ções de Fortalezas Voadoras, seus 350 aviões conseguiram abater nada menos que 39 B-17s e danificaram severamente outros 111 - de um total de 169 bombardeiros.
Mas seria uma exceção. A situação da Luftwaffe piorava a cada dia, forçando-o a reconstruí-la cada vez que era lançada por Hitler e Göring em mais uma ofensiva sem sentido. O ponto crítico chegou em janeiro de 1945. Em uma lendária reunião - hoje chamada de "Motim dos Pilotos" - Adolf Galland, Günther Lützow, Gün ther von Maltzahn, Hannes Trautloft, Johannes Steinhoff e outros veteranos enfrentaram abertamente Göring. Em um dado momento, quando o decadente Reichsmarschall acusou-os de serem mentirosos, covardes e de inflarem seu número de vitórias, Galland arrancou sua Cruz de Cavaleiro com Brilhantes do pescoço e arremes sou-a na mesa de Göring. Era o fim.
Generalmajor Adolf Galland.
Exonerado de seu cargo de Generalderjagdflieger em 15.01.1945 (sen do sucedido por Gordon Gollob), Galland passaria as semanas seguin tes praticamente em prisão domiciliar, enquanto seus amigos eram enviados para postos remotos no que restava do III Reich. Ameaçado pela Gestapo, ele cogitou seriamente de dar cabo à sua vida. Mas, en tão, Hitler soube das intrigas conduzidas por Heinrich Himmler (chefe das SS e da Polícia Secreta) e por Göring.
Acreditando que o antigo piloto merecia um fim melhor, ele determinou que a atuação da Gestapo cessasse e que Galland fosse autorizado a comandar um esquadrão de jatos. Se fosse para morrer - o que Hitler, Göring e Himmler sinceramente esperavam que acontecesse - que morresse em combate.
O resultado foi o surgimento daquela que seria a mais famosa unidade de caças à jato da história: a Jagdverband 44 (JV 44). Utilizando Johannes Steinhoff como seu "recrutador", Galland transformou sua unidade em um imã para os ases que haviam sobrevivido ao conflito conhecido como o "Esquadrão de Experts". Vários ases tinham mais
de cem vitórias e alguns mais de 200 abates: além dos já citados Steinhoff e Lützow, fizeram parte desse grupo Walter Krupinski, Gerhard Barkhorn, Heinz Bär e vários outros.
Eles passaram a operar a partir do final de março de 1945, sediados inicialmente em Brandenburg-Briest, onde permaneceram pouco tempo antes de se mudarem para Riem, próximo a Munique, no sul da Alemanha. Operando em pistas sob constante ataque de caças americanos e com constante falta de peças de reposição e combustível, os resultados atingidos por Galland e seus homens foram notáveis, dadas as circunstâncias. Seu melhor momento ocorreu em 07.04.1945, quando uma formação de bombardeiros B-17 foi interceptada pelos Me262 de Galland equipados com mísseis R4M. O resultado foi catastrófico para os americanos: nada menos que cerca de 30 quadrimotores foram abatidos.
Mas a guerra já estava perdida à essa altura. Sua última missão no con-flito foi em 26 de abril de 1945 (duas semanas antes do final da guerra). Voando em pequena formação de Me262 sobre o Danúbio, ele derrubou dois bombardeiros B-26 Marauder antes de ser abatido pelo Lt. James Finnegan do 50º Figther Group da USAAF que fazia a escolta com seu P-47 Thunderbolt. Esta também seria a última ação conhecida dos Me 262. Quando a Alemanha se rendeu aos Aliados, em 08.05.1945, Adolf Galland estava no hospital se recuperando dos ferimentos de sua última missão.
Galland seria mantido como prisioneiro de guerra pelos americanos e in-gleses até 1947. Após sua libertação, ele emigrou para a Argentina, onde trabalhou como consultor do Ministério da Aeronáutica ao lado de nomes como Werner Baumbach, Hans-Ulrich Rudel e Kurt Tank (o projetista che-fe da Focke-Wulf), ajudando a desenvolver o primeiro jato daquele país. No início dos anos 50 ele publicou sua aclamada biografia, conheci da co-mo "The First and The Last" ("O Primeiro e o Último"), ainda hoje editado. Seu trabalho permitiu que mantivesse contato com o mundo da aviação, em um período em que a maioria de seus colegas estava afasta dos dessa área.
Retornando à Alemanha em 1955, o nome de Galland foi um dos primeiros a ser cogitado para assumir a liderança da nova Luftwaffe. Contudo, ao saber que ficaria subordinado ao General Josef Kammhuber - com quem já tinha tido alguns problemas de relacionamento durante a guerra - Galland declinou e permaneceu como consultor, tornando-se um empresário extremamente bem sucedido. Sua paixão pelo vôo continuou assim como sua fama de "bon vivant": ele se casou três vezes e se tornou pai pela primeira vez aos 54 anos de idade.
Em 1969, Adolf Galland foi contratado como consultor pelos produtores do hoje clássico filme de guerra "A Batalha da Inglaterra" (The Battle of Britain). Um dia, visitando o set de filmagem, ele surpreendeu a todos: tomou o assento no cockpit de um dos Ha-1109 (a versão espanhola do Bf109) usados pela produção, decolou e, diante das câmaras, executou uma impecável seqüência de tunneau a poucos metros do solo. Pousou em seguida diante dos olhares atônitos dos jovens pilotos contratados para as cenas dos combates aéreos. Nada mal para um senhor de 57 anos!!
O eterno ás da Luftwaffe, o Generalleutnant Adolf Galland faleceu em razão de uma parada cardíaca em sua casa em Oberwinter, subúrbio de Bonn (Alemanha), no dia 09 de fevereiro de 1996, aos 83 anos de idade. Durante sua carreira, Adolf Galland executou 705 missões de combate (280 na Espanha), ao longo das quais alcançou a marca de 104 vitórias confirmadas - todas contra aliados ocidentais (incluindo quatro bombardeiros quadrimotores e oito vitórias à bordo do lendário jato Messerschmitt Me262)
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